Do Blog de André Barcinski*
Então Caio Ribeiro será o comentarista titular da Globo?
Não me afeta em nada. Faz anos que não assisto a esporte na TV aberta.
Não suporto ufanismo e me recuso a ver comentaristas chapa branca que não podem criticar o jogo para não irritar os patrocinadores.
Quando assisto a futebol na TV, gosto de ver o Mauricio Noriega. Sou fã do cara. Quando ele faz dobradinha com o Milton Leite, consegue a proeza de me fazer assistir até um jogo que não seja do Fluminense (escrevo isso vendo a dupla atuando no jogo do Santos na Libertadores).
Gosto também do Lédio Carmona, do PVC, do Arnaldo Ribeiro e do André Rizek. Curto a rabugice do Trajano e achei uma pena o Alex Escobar ter parado de comentar futebol.
Agora, se eu fosse diretor de uma emissora qualquer, promoveria a volta dos comentaristas-torcedores.
Acho que o jornalismo esportivo está bem comportado demais. Todo mundo é sensato e imparcial.
Quando eu me refestelo no sofá pra ver futebol, a última coisa que quero é sensatez e imparcialidade. A objetividade me entorpece.
Assistir o Caio Rivotril Ribeiro dizendo que o meio-campo do Ibitipoca sente a falta de Zacharias, seu homem de criação, ou que o técnico do Chupacabra precisa corrigir as falhas de cobertura da zaga, me botam pra dormir em cinco minutos.
Talvez eu seja uma exceção. Conheço muita gente que gosta de futebol e adora ouvir análises frias e objetivas sobre a partida.
Já eu, não. Gosto mais do meu time do que de futebol.
Entre assistir na TV a Fluminense x Madureira ou Barcelona x Real Madrid, fico com o clássico de Conselheiro Galvão, sem dúvida. Quero que o Messi e o Cristiano Ronaldo vão pro diabo que os carregue.
Semana passada estava no Rio e fui pela primeira vez ao Engenhão. Foi uma tragédia: o Fluminense jogou mal pacas, quase perdeu do Argentinos Juniors e tomou dois gols de cabeça de um tampinha de um metro e meio.
Gastei 150 reais entre ingresso, táxi e bebida; vi um jogo horroroso e cheguei em casa à 1h30 da manhã. Aliás, não vi jogo nenhum, porque pra ver alguma coisa no Engenhão, só com o telescópio Hubble.
O sujeito que projetou aquela desgraça deve odiar futebol. O campo fica a uns dois quilômetros da torcida.
Só uma coisa salvou a minha noite: na volta do jogo, o taxista ouvia os comentários de Gerson, o Canhotinha de Ouro. Ele dizia o seguinte:
“Gente, vamos fazer um cálculo aqui: o argentino anão tem um metro e meio. O Gum (zagueiro do Flu) tem quatro metros de altura, e o André Luís (outro zagueiro), tem oito metros de altura. O goleiro tem doze metros. Então como é que o anão de um metro e meio pode fazer dois gols de cabeça? Porra, o fêmur do André Luís é mais alto que o argentino! O fêmur!!!!”
Ouvir o Gerson trouxe lembranças de meu comentarista insensato predileto, João Saldanha (por favor, se alguém tiver alguma cena do Saldanha comentando a Copa de 86 da Rede Manchete, poste aqui).
Espero que minha memória não me engane – já se passaram 25 anos – mas lembro de duas cenas antológicas:
Brasil x Argélia.
Jogo horroroso, zero a zero até o meio do segundo tempo. Saldanha tá uma fera, só reclama do time. Telê manda Muller pro aquecimento. O locutor Paulo Stein pergunta:
“João, quem deve sair pro Muller entrar?”
“E eu sei lá?”, responde João, furibundo. “Porra, contra esse time aí? Sai qualquer um! Sai o Casagrande, sai o Sócrates, sai quem quiser! Sai até você, que fica aí me perguntando essas coisas!”
Nas quartas, contra a França, o jogo vai pros pênaltis. E Saldanha já começa a antecipar que Sócrates não deve bater o pênalti sem tomar distância da bola, como costumava fazer. “Até o Pelé pegava distância...”
Chega a vez do Doutor. Sócrates fica a dois passos da bola.
João prevê a tragédia: “Eu tô dizendo... pega distância! Não fica aí! Vai pra trás! Vai pra trás!”
O juiz apita. Sócrates dá um passinho de moça e bate. O goleiro pega.
Três segundos de silêncio...
“PALHAÇO!!! MOLEQUE!!! IRRESPONSÁVEL!!!
Paulo Stein diz... “Pppp...ooomba!”
E João retruca: “Pomba nada, é PORRA mesmo!
* http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2011-02-13_2011-02-19.html