domingo, 4 de julho de 2010

O SARGENTÃO E O HIPPIE VELHO



Deu no Blog do Paulo Moreira Leite*

Brasileiros e argentinos disputaram a Copa da África com dois estilos diferentes: era o Brasil do sargentão Dunga e a Argentina de Maradona, que parece um hippie velho com seu jeito irreverente e a disposição para fazer pequenas provocações.

Sofri demais com a derrota do Brasil, uma decepção proporcional a minha ingenuidade de acreditar que aquele time poderia ir muito longe.

Mesmo que o Brasil não tivesse tombado diante da Holanda, descontrolado sob comando de um técnico que pretendia ter tanto controle sobre os craques, até sobre o que se escrevia e se dizia sobre eles, talvez não tivéssemos muito o que recordar de uma seleção tão opaca, sem gosto e sem alegria.

Mas não posso deixar de lembrar de Maradona. Todos nós conhecemos a biografia de altos e baixos de Maradona. Não vou falar sobre a droga ou coisas parecidas. Espero que tenha se recuperado para valer. Mas concordo com alguns valores que ele assumiu na Copa. Acho que eles fariam bem ao futebol e a todos nós.

Num mundo onde a competição caminha para se transformar num valor absoluto, a irreverência de Maradona nos ajuda a recordar que o sucesso não é tudo na vida. Gostava de vê-lo dar embaixadas ao lado do banco dos reservas, nos jogos iniciais da Copa. Era uma demonstração de que futebol não é apenas negócio, profissão, dinheiro — mas também é uma grande brincadeira, um prazer. Também gosto de seu jeito de elogiar os jogadores, de colocar o talento em primeiro lugar.

A reação de Dunga à derrota foi fria, auto-centrada, de quem calcula o prejuízo. Maradona foi solidário.

Abraçou os jogadores, como se fosse chorar com eles. Passei o dia ouvindo crítica a Argentina e aos argentinos. Mas até uma balconista que passou os 90 minutos de Argentina e Alemanha falando mal de Maradona, de Messi, de Di Maria, e de outros que não sei o nome, foi obrigada a admitir, quando a TV exibiu as imagens de Maradona e o grupo de derrotados retirando-se do estádio:

–O Maradona abraçou os jogadores. O Dunga não fez isso.

Ambos foram derrotados e é possivel imaginar que os dois tenham sido equivalentes em seus defeitos. Mas tenho a impressão de que o hippie velho deixou mais histórias para contar.

*Jornalista desde os 17 anos, foi diretor de redação de ÉPOCA e do Diário de S. Paulo. Foi redator chefe da Veja, correspondente em Paris e em Washington.http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/category/geral/

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