segunda-feira, 16 de maio de 2011

SANTOS CAMPEÃO!!!







Uma feliz e justa homenagem do Blog da Máquina ao legitimo campeão.

A máxima de que "no futebol não há lógica”
foi devidamente desclassificada.

Ganhou o melhor: SANTOS!!!!

Lógico!

sábado, 14 de maio de 2011

O corvo e o Viagra do Vozão na Terra do Sol



(Ou a Arte de Secar)




Por Xico Sá (do UOL)

Tem gente que não entende a missão do meu estimado corvo Edgar,6,no mundo. Nossa, quantos flamenguistas bravos ontem com a ave agourenta no twitter.



Ficar bravo, aliás, tudo bem. "É do juego", como diz el cuervo quando se dana a falar em portunhol selvagem, seu idioma preferido.



Não pode é fazer de qualquer rodada de futebol uma guerra de preconceitos e chutes de xenofobia explícita na canela, como está ocorrendo neste exato momento nas redes sociais. Ainda mais por parte dos rubronegros cariocas, que contam lindamente com uma massa fanática em todos os rincões do Brasil.



Voltemos ao Edgar. O corvo, como ia dizendo, é o maior secador do planeta, criado à base do xerém da intriga, peçonhento que aparece na minha crônica toda sexta-feira -na versão impressa da Folha- e que também dá uma pinta aqui no blog na madruga da quinta dos infernos.



Na semana passada "Never More", como também é conhecido, fez o estrago.Tirou brasileiros da Libertadores e espalhou um rastro de agouro em nossas floridas várzeas. Deu o bis agorinha: pôs um Viagra na caneca do Vozão, que eliminou o seu primo pobre Ubaldo (viva eternamente o Henfil!), o genial urubu rubronegro.



Não que o Vovó deixasse de ter seus méritos e um embornal de catuaba trazido lá dos sertões dos Inhamuns. É que a sua bengala ficou meio bamba naqueles dois gols de cara no abafa do Mengo.



No que o corvo esqueceu o seu bordão do "Nunca Mais" e disse: "Levanta, Vozim, num seja abestado de perder o melhor da festa da Copa do Brasil".



E fez-se a luz na Terra do Sol.



É, amigo de qualquer parte, a arte de secar é o que importa. Porque a vida é mata-mata, daqui ninguém sai vivo, ninguém escapa.



Apenas para os bem-nascidos e bem-planejados a vida é de pontos corridos.



Este é um blog de quem torce, mas sobretudo é dos secadores.



Torcer, vá lá, tem seu valor; mas bom mesmo é secar.



Eu seco, tu secas, ele seca.



Nunca se secou tanto no Brasil. Lugares como Rio e SP, nem se fala. Cidades partidas ao meio, como o Visconde de Calvino. Os que torcem e os que secam.



Não basta fazer a sua parte, tem que botar o olho grande no time do próximo. O mais doce dos pecados ludopédicos.



Gozar com o falo alheio, como diria o amigo Sigmund, dando requintes intelectuais à psicanálise de boteco, é melhor que o gozo próprio. Ô, se é!



Secar é não saber sequer o nome de quem marcou o gol do Ceará que eliminou o poderoso Flamengo.



Secar é contra é sempre a favor do mais fraco. Nem que seja o mais fraco segundo o juízo da mídia.



Secar é relax. Se não está dando certo, mudamos de canal e secamos o outro jogo. Meu melhor dia, minha virtuose de secador profissional foi num histórico Náutico 0 x 1 Íbis. Com direito a perder pênalti e tudo.



Nos Aflitos.



O pênalti, aliás, é o êxtase do secador. Ele chega a se adiantar, no estádio ou no sofá, junto com o goleiro. Ele abre os braços, provoca, fala mal da mãe do cobrador bem ao pé do ouvido... Todo secador que se preza adivinha até o canto.



Torcer é brega, é lacrimoso.



Secar é chique. Très-chiquè, como diria um justíssimo marroquinho queimador de carros em Paris.



Secar é... ser cricri e demasiadamente humano.



O mais doente torcedor corintiano de domingo pode virar, compulsoriamente, o mais convicto secador da próxima quarta. Secar é não precisar suar frio, secar é elegante, democrático, discreto, não tem aquela coreografia ridícula do torcedor aflito, secar é ser o vilão, não o bonzinho, secar é a grande arte.





sábado, 7 de maio de 2011

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA









São determinações do Ministério da Educação!


E como ficam as nossas tradições?

























Vejam que interessante...sobre o excesso de tato nas questões de indução ao preconceito.














Texto de Luiz Antônio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.


Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias o u coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não.
Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços,
Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).