sábado, 14 de maio de 2011

O corvo e o Viagra do Vozão na Terra do Sol



(Ou a Arte de Secar)




Por Xico Sá (do UOL)

Tem gente que não entende a missão do meu estimado corvo Edgar,6,no mundo. Nossa, quantos flamenguistas bravos ontem com a ave agourenta no twitter.



Ficar bravo, aliás, tudo bem. "É do juego", como diz el cuervo quando se dana a falar em portunhol selvagem, seu idioma preferido.



Não pode é fazer de qualquer rodada de futebol uma guerra de preconceitos e chutes de xenofobia explícita na canela, como está ocorrendo neste exato momento nas redes sociais. Ainda mais por parte dos rubronegros cariocas, que contam lindamente com uma massa fanática em todos os rincões do Brasil.



Voltemos ao Edgar. O corvo, como ia dizendo, é o maior secador do planeta, criado à base do xerém da intriga, peçonhento que aparece na minha crônica toda sexta-feira -na versão impressa da Folha- e que também dá uma pinta aqui no blog na madruga da quinta dos infernos.



Na semana passada "Never More", como também é conhecido, fez o estrago.Tirou brasileiros da Libertadores e espalhou um rastro de agouro em nossas floridas várzeas. Deu o bis agorinha: pôs um Viagra na caneca do Vozão, que eliminou o seu primo pobre Ubaldo (viva eternamente o Henfil!), o genial urubu rubronegro.



Não que o Vovó deixasse de ter seus méritos e um embornal de catuaba trazido lá dos sertões dos Inhamuns. É que a sua bengala ficou meio bamba naqueles dois gols de cara no abafa do Mengo.



No que o corvo esqueceu o seu bordão do "Nunca Mais" e disse: "Levanta, Vozim, num seja abestado de perder o melhor da festa da Copa do Brasil".



E fez-se a luz na Terra do Sol.



É, amigo de qualquer parte, a arte de secar é o que importa. Porque a vida é mata-mata, daqui ninguém sai vivo, ninguém escapa.



Apenas para os bem-nascidos e bem-planejados a vida é de pontos corridos.



Este é um blog de quem torce, mas sobretudo é dos secadores.



Torcer, vá lá, tem seu valor; mas bom mesmo é secar.



Eu seco, tu secas, ele seca.



Nunca se secou tanto no Brasil. Lugares como Rio e SP, nem se fala. Cidades partidas ao meio, como o Visconde de Calvino. Os que torcem e os que secam.



Não basta fazer a sua parte, tem que botar o olho grande no time do próximo. O mais doce dos pecados ludopédicos.



Gozar com o falo alheio, como diria o amigo Sigmund, dando requintes intelectuais à psicanálise de boteco, é melhor que o gozo próprio. Ô, se é!



Secar é não saber sequer o nome de quem marcou o gol do Ceará que eliminou o poderoso Flamengo.



Secar é contra é sempre a favor do mais fraco. Nem que seja o mais fraco segundo o juízo da mídia.



Secar é relax. Se não está dando certo, mudamos de canal e secamos o outro jogo. Meu melhor dia, minha virtuose de secador profissional foi num histórico Náutico 0 x 1 Íbis. Com direito a perder pênalti e tudo.



Nos Aflitos.



O pênalti, aliás, é o êxtase do secador. Ele chega a se adiantar, no estádio ou no sofá, junto com o goleiro. Ele abre os braços, provoca, fala mal da mãe do cobrador bem ao pé do ouvido... Todo secador que se preza adivinha até o canto.



Torcer é brega, é lacrimoso.



Secar é chique. Très-chiquè, como diria um justíssimo marroquinho queimador de carros em Paris.



Secar é... ser cricri e demasiadamente humano.



O mais doente torcedor corintiano de domingo pode virar, compulsoriamente, o mais convicto secador da próxima quarta. Secar é não precisar suar frio, secar é elegante, democrático, discreto, não tem aquela coreografia ridícula do torcedor aflito, secar é ser o vilão, não o bonzinho, secar é a grande arte.





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